Diário de Bordo - Sérgio

 

10/01/2007

Após todas as nossas atividades matinais, pegamos o bote e fomos para terra. Seguimos direto para a praia da Ribeira e de lá pegamos o guia Valdemir para ir para a Prainha, considerada uma das dez bonitas do Brasil (em todo lugar que vamos há uma das dez praias mais bonitas do Brasil! – rsrsrs). Partindo da Ribeira, seguimos por uma trilha estreita que nos lembrou muito as trilhas de Ilhabela. Muita vegetação de mata atlântica em plena Bahia passando por vários rios e pequenas cachoeiras. Passamos por um lugar onde há arvorismo e tirolesa e fomos seguindo a trilha. Logo parávamos numa pequena cachoeira que caia dentro de uma piscina natural. Foi uma parada providencial para nos refrescar! Seguindo um pouco mais, passamos por pontes e troncos que nos permitiam cruzar os riozinhos do lugar e curtimos muito o visual da mata e do rio. Chegamos num descampado, onde havia um belo mirante para o mar e para a arrebentação das ondas nas pedras. Após quarenta minutos de caminhada desde a Ribeira, chegávamos na Prainha. Realmente, muito bela, essa praia é protegida por lateralmente por dois morros que parecem gêmeos. A praia faz uma curva suave e, atrás, muitos coqueiros e um pequeno barzinho completam o cenário. Ela tem uma simetria perfeita e isso nos causa uma sensação de beleza e bem estar muito grande. Fomos logo para a água e ficamos tomando banhos de mar e pegando jacarés. Antes de ir embora, tomamos banho de água doce numa ducha deliciosa (todas as praias aqui tem um riozinho desaguando no mar). Retornamos para a trilha e fizemos uma parada rápida na cachoeirinha com a piscina. A volta levou meia-hora e o passeio foi bem proveitoso. Sentamos um pouco na Ribeira para descansar e depois seguimos para a cidade. Fomos direto comer baguetes de picanha, que estavam ótimas. Depois de comer um chocolate caseiro, fomos tentar encontrar a Ester novamente. Conseguimos conhecê-la e ela nos pareceu ser uma pessoa especial, como a Cláudia a descreveu. Ficamos conversando bastante tempo e fomos convidados para jantar no restaurante dela amanhã. Segundo a Cláudia, italiana legítima, Ester é a brasileira que faz a melhor comida italiana do mundo! Retornando ao barco, ainda fui comprar dois galões de diesel para termos de reserva. Quando chegamos no barco, deitei no cockpit e apaguei. De madrugada, acordei com um cobertor em cima de mim e as crianças dormindo nos dois bancos do cockpit, ao meu lado. Como a noite estava gostosa e sem ameaça de chuva, deixei-os dormindo lá, pois estão pedindo desde o começo da viagem para fazer isso.

 

11/01/2007

Acordamos tarde e tudo ficou meio atrasado por causa do estudo das crianças. Mesmo assim, após tudo terminado, saímos uma e meia da tarde para tentar ir à praia de Itacarezinho. Um pouco antes de sairmos, a Carol foi ao banheiro e disse que o vaso sanitário estava cheio de bichos! Eram minúsculos camarões que entraram pelas tubulações! Pegamos o bote e fomos indo para a praia, mas a saída de água do motor estava entupida. Tentei desentupir quando chegamos na praia com um arame que o Serginho nos arranjou, mas nada. Eu e o Serginho desmontamos o tanque e removemos o tubo de saída da água de refrigeração. Quando ele saiu, vimos o rabinho de um camarão saindo do buraco! Removemos o danado e tudo voltou a funcionar normalmente! Andamos até a rua principal da cidade e esperamos (muito!) pelo ônibus que vai até Itacarezinho. Chegando lá, descemos a pé um quilômetro e meio de descida íngreme, com um lindo mirante, de onde se enxerga grande parte da praia. A praia é maravilhosa! Talvez mais bela que a prainha! O lado esquerdo tem um morro de mata atlântica, a orla é toda de coqueiros e a praia se perde de vista para a direita. Havia bastante gente na praia, há um restaurante com ares de “chique” e muito “fresco”, que não quis nos vender uma porção de batatas fritas porque não estávamos sentados numa mesa e várias barracas de lanches, camisetas, massagens, etc., no local. Ficamos duas horas, grande parte delas pegando jacarés na beirada! O Jonas, principalmente, se diverte muito em praias com ondas. As crianças também fizeram castelos de areia e comemos um sanduíche natural. Para retornar, preferimos pagar um “trenzinho” (na verdade, uma toyota puxando uma carreta), para não ter que encarar a ladeirona. Chegamos na estrada na hora “H” em que passava um excelente ônibus intermunicipal e o pegamos, junto com um monte de gente. Chegando na cidade, passamos num supermercado, onde a Lu encontrou uma amiga de faculdade, e fomos para o barco nos arrumar. Pegamos nossas coisas, abusamos novamente da casa do Serginho e tomamos um banhão lá, ficamos todos “nos trinques” e fomos jantar no Mediterrâneo. O restaurante é lindíssimo e a comida melhor ainda. Por coincidência, a Ester estava com uma saia pintada pela Cláudia e a Lu uma calça também pintada pela Cláudia! Quanto ao jantar, em respeito aos leitores, vou omitir o cardápio. Como Noronha, não há palavras para descrever o magnífico jantar que a Ester nos ofereceu! Se alguém vier para Itacaré e não passar para jantar no Mediterrâneo, pode ter certeza que perdeu uma das maravilhas daqui! O que impressionou, fora a delícia da comida, foi sua beleza (a Ester diz que aprendeu isso com a Cláudia!) e a sensibilidade da Ester. Digo isso, pois preferimos que ela escolhesse o cardápio (“colocamo-nos nas mãos dela”, como ela mesmo disse!) e ela acertou em cheio os gostos, com um prato diferente para cada um! Na sobremesa aconteceu a mesma coisa. A impressão que tivemos foi que ela nos conhecia há muito tempo e assim nos sentimos quando conversamos com esta maravilha de pessoa. Ficamos conversando até meia-noite e meia e só saímos porque a Carol estava morrendo de sono. Caímos no sono imediatamente quando chegamos, satisfeitos fisicamente e espiritualmente!

 

12/01/2007

O programa de hoje é descansar e fazer coisas leves, para nos preparar para nossa travessia de amanhã. Após todas as nossas atividades matinais, fomos andar pela orla da cidade. É uma pena que esteja tão suja, mas estão cuidando dela e colocando rede de esgotos agora. Passamos na frente da igrejinha e fomos até uma peixaria para perguntar sobre como comprar gelo. Vimos grandes dourados de quase vinte quilos cada um lá! Retornamos, alugamos pranchas de body-board e de surf para as crianças e a Lu pegarem ondas e fomos para a praia. Ficamos lá até o final da tarde e até dormi deitado na areia! Na volta, paramos rapidamente para comer uma pizza, compramos algumas coisas que precisávamos e fomos nos despedir da Ester. Ela prometeu ir a Ilhabela em breve e já saímos com saudades da nova amiga. No restaurante Éden, nos despedimos e agradecemos muito o Serginho, que foi extremamente atencioso conosco e que nós esperamos poder retribuir toda essa atenção quando ele parar em Ilhabela com algum barco. Fomos para o barco e dormimos cedo.

 

13/01/2007

Acordei cedo e comecei a arrumar tudo para a travessia. Peguei o bote e fui com ele até a peixaria, onde comprei muito gelo por R$ 3,00! A idéia é pescarmos durante a travessia e ter gelo para conservar o peixe. Tomamos o café da manhã e às dez horas estávamos levantando âncora, um pouquinho antes do estofo de preamar. Fomos saindo seguindo os waypoints do Roteiro Náutico e tudo correu muito bem. O vento estava um pouco forte e as ondas eram altas na saída da barra, mas nada de assustar. Imagino que esta barra com mau tempo deve ser terrível. Levantamos a mestra no segundo rizo e fomos até o último waypoint de saída, quando pudemos arribar e pegar o vento mais favorável. Abrimos todo o pano, colocamos a vara de pesca e fomos nos afastando de Itacaré, que vai deixar saudades. Quando estávamos passando nas praias onde estivemos, a carretilha começou a cantar e a levar muita linha. Tentamos frear o barco e fui fechando a fricção, até que a linha ficou bamba. Quando recolhi, vi que a linha havia sido cortada! E olha que havia um encastoado de 20 centímetros de comprimento preso na isca! Foi-se uma isca cara, mas logo colocamos a outra na água. Velejávamos muito bem, com média de sete nós de velocidade e vento forte. No meio da tarde, a fricção cantou outra vez, soltamos as velas e orçamos para frear bem o barco e puxamos um atum de cerca de três quilos! Limpei-o e guardei na geladeira. Lavei o convés, que estava com muito sangue do peixe, recolocamos a linha e voltamos a velejar. Estávamos com o segundo rizo na mestra, pois o vento havia ficado mais forte. Aproveitei a tarde para dormir e me preparar para o turno da noite, já que todos estavam bem e acordados no cockpit. O vento apertou mais um pouco e, como estávamos adiantados para chegar em Porto Seguro com maré alta, retirei a mestra. O barco continuou andando bem e com o centro vélico jogado para a proa, o piloto automático ficou com menos esforço e passou a corrigir menos o rumo. Anoiteceu, recolhemos o material de pesca e, antes das sete horas, todo o resto da tripulação dormia e eu assumia meu longo turno. As ondas entravam pela alheta do barco, fazendo com que ele jogasse com a passagem de cada onda. Uma onda mais forte derrubou a mala da Lu, que estava no sofá da sala. Ela se levantou, recolheu as coisas e voltou a dormir. A noite foi tranqüila, vi um navio apenas e quatro barcos de pesca. O mar foi se acalmando e o vento diminuindo. Dessa forma, apesar de ainda chacoalhando um pouco, todos puderam dormir bem. Quando era uma hora da manhã a Lu acordou e ficou no turno para mim por duas horas. Quando eu dormia, escutei a Lu me chamar assustada! Saí e o que ela achava ser um grande navio vindo em nossa direção, era, simplesmente, a lua minguante aparecendo por cima das nuvens, bem amarelada. Ficamos vendo um pouco o luar e retornei para a cama. Às três voltei para o turno e, quando o dia amanhecia, coloquei a vara de pesca novamente em ação.

 

14/01/2007

Fiz o turno até as cinco, quando amanheceu e chamei o Jonas. Dormi muito bem e às sete a Carol pegou o turno. Nossa navegação estava em cima já nos aproximávamos de Porto Seguro. Comemos bolachas e frutas e, quando eram dez horas, liguei para o Hotel Quinta do Porto para avisar da nossa breve chegada. Nos avisaram que às onze haveria um barco nos esperando para nos guiar até a marina. Dez e meia eu coloquei no forno o peixe que havíamos pescado ontem, para chegarmos com almoço pronto na marina. Onze horas nós estávamos ao lado do farol de entrada e não havia nenhum barco. Falamos pelo rádio com a marina e a pessoa responsável falou que já nos via, que um barco logo iria nos pegar e que estavam arrumando uma vaga para nós na marina que estava cheia. Ficamos rodando por uma hora, sempre ligando para a marina e para o funcionário que nos atendeu no rádio, mas o barco não aparecia. Quando era meio-dia e dez, quando eu já estava quase arriscando uma entrada até o píer municipal para esperar o prático dentro do quebra-mar, pois o vento havia aumentado e o mar estava cada vez mais agitado, apareceu um barquinho de alumínio e nos guiou. Chegamos na marina, que estava vazia, com muitas vagas sobrando, e encostamos o barco. Quase batemos no píer, pois quando nos passaram o cabo de proa, o Jonas não conseguiu caçá-lo por causa de um nó! Rapidamente fui para a frente e foi a conta justinha de caçar o cabo na hora certa. Começamos a conversar com o funcionário que nos recebeu, o “Shepa”, e soubemos que a marina havia sido terceirizada para outra empresa! Os preços triplicaram e até o serviço de praticagem está sendo cobrado, só que como não falaram nada conosco pelo rádio, não iriam cobrar. O funcionário disse que o serviço havia melhorado, mas quando o Jonas foi descer do barco para ir ao banheiro, viu que o funcionário não havia travado nosso cabo de atracação na última virada do nó “oito”. Para piorar, no meio da tarde, enquanto eu descansava, o barco que estava ao nosso lado teve seu cabo de popa arrebentado e veio atravessado para cima do Fandango. Subi no barco e passei outro cabo para o Jonas, que o amarrou, pois não havia nenhum funcionário na marina. A única coisa que noitei de melhora foram as luzes no píer, pois o resto tinha tudo. Quanto aos serviços, quando o Japonês estava trabalhando da outra vez que viemos, não tivemos queixa nenhuma e nem vimos ninguém se queixando de problemas. Aproveitei para lavar o Fandango com água doce e tomamos um ótimo banho de mangueira no banheiro do barco. A Lu e a Carol se assustaram, pois havia entupido o escoamento da água do banheiro para o porão e ele ficou “meio” inundado. O Jonas se atrasou com a lição e ficou no barco para acabá-la. Fui com a Lu e a Carol na “Passarela do Álcool” e lá passeamos, tomamos cocos verdes e comemos acarajés. Vimos também as lindas esculturas “eólicas”, feitas em arame, que já havíamos visto da outra vez. O artista tem idéias fantásticas e sempre há novidades. Voltamos ao Fandango, corrigi a lição do Jonas e fomos todos dormir.

 

15/01/2007

Acordei com alguém chamando no píer dizendo que a Marinha nos chamava no rádio VHF. Sempre atenciosos, eles perguntaram quando nós pretendíamos sair e nos pediram para avisá-los assim que zarpássemos, para avisarem o nosso próximo destino quando estávamos indo. Agradeci a atenção e comecei a fazer nosso café da manhã. O barco ao lado do nosso, novamente, deu uma pancada em nosso costado. Desta vez foi o cabo de proa, que estava enroscado no fundo de uma lancha em frente a nós e que se soltou quando esta saiu. O funcionário correu para puxá-lo, enquanto eu ajeitava as defensas e segurava o barco com os pés. Como a correnteza estava forte e subindo, foi muito difícil caçar o cabo e o barco ficou meio de lado para a correnteza, sem podermos caçar mais. Deixamos assim e falei para o funcionário caçar o cabo novamente quando a maré parar de subir. Fizemos nossas tarefas e tomamos nosso café. Enquanto o Jonas e a Carol brincavam no hotel, fui com a Lu até a praia mais próxima. Tomamos um banho de mar, mas não conseguimos mergulhar. Andamos pela praia e vimos dois windcar’s, que o Jonas vai adorar! Retornamos pouco depois e fomos para Porto Seguro almoçar. Procuramos nosso velho conhecido e saudoso “Portinha” e demos sorte: dia de comida mineira! Comemos muito e, enquanto almoçávamos, os Hagge ligaram avisando que haviam chegado. Após o almoço fomos encontrar com eles em frente ao píer municipal. Matamos saudades, mostramos um pouco da “Passarela do Álcool” (rua com muitas barracas de comércio em Porto Seguro) e tomamos sorvetes. Ficamos conversando até quase oito e meia e nos despedimos, marcando de nos ver amanhã. Fomos andando pela rua onde ficam os bancos, procurando um mercado aberto, mas não encontramos nenhum. Retornamos ao Fandango, tomamos um banho de mangueira no cockpit e ficamos conversando até tarde com o comandante que está transportando o “Vagabond”. O sono bateu forte e apagamos rapidamente.

 

16/01/2007

Após nossas atividades matinais, fomos todos para Porto Seguro. Primeiro, fui resolver o problema de um boleto que esqueci de pagar ontem. Tive que passar numa lan-house para imprimir uma segunda via, depois num Banco 24 Horas para sacar dinheiro e finalmente ir ao Bradesco enfrentar uma fila demorada para pagar a conta. Minha avó já dizia: “Quando a cabeça não funciona, o corpo padece!”. Almoçamos e passamos numa lojinha que tinha vestidos muito bonitos e baratos, típicos para usar em praia. Comprei dois para a Carol e a Lu comprou quatro para ela. Encontramos com os Hagge e fomos até o Centro Histórico. Andamos muito por lá, fomos novamente ao museu que já conhecíamos e senti pena de ter esquecido a máquina fotográfica, pois o dia estava lindo. No final do dia, nos despedimos e voltamos a pé, descendo os degraus até a cidade baixa. Antes de irmos ao mercado, tomamos um lanche e comprei uma papete nova para a Carol, pois a dela está quase partindo. É a quarta da viagem! No mercado, fizemos uma grande compra e levamos as compras para o barco. Os sempre atenciosos funcionários da Quinta do Porto nos ajudaram a carregar e descarregar as compras e o comandante do barco de transporte de passageiros parou no píer onde estava o Fandas para ficar mais fácil. Arrumamos todas as compras e, após conversar nos confortáveis bancos do hotel, fomos descansar.

 

17/01/2007

Acordamos tarde e perdemos o mergulho que pretendíamos fazer ao lado do hotel, pois a maré já enchia muito. Tomamos café, fizemos diários e lições de casa. Arrumamos tudo e fomos andar na praia até Arraial D’Ajuda, um passeio imperdível. Vimos os windcar’s e o Jonas adorou-os! Ficou examinando a construção deles e bati fotos dele ao lado dos carros. Continuamos andando, conversando e olhando os corais que estavam quebrados na praia. Não dava vontade de parar e acabamos parando apenas quando chegamos na frente do Eco-Parque. Tomamos nosso banho de mar e tentei ligar para os Hagge, que estavam no parque. Não conseguimos contato e ficamos por ali boa parte da tarde. Quando chegou o meio da tarde, subimos e almoçamos no Portinha de Arraial. Estava muito quente e depois descobrimos uma ótima sorveteria ao lado da igreja, para refrescar um pouco. Consegui contato telefônico com nosso amigo Tate Parracho, após dias ligando para ele. Após o sorvete, para minha surpresa, todos preferiram voltar a pé para o hotel. Descemos para a praia e fomos andando. Escureceu quando estávamos quase chegando, mas foi um passeio delicioso! Andar na praia nunca me cansa. Achamos a passagem para o hotel e tomamos nosso banho de mangueira no cockpit. Estávamos cansados de tanto andar e ficamos no hotel e no barco, curtindo as dores musculares das pernas!

 

18/01/2007

Acordamos tarde e tomamos nosso café. Pouco depois, meu pai ligava dando notícia do falecimento de meu tio Vicente, irmão de meu pai. Esse tio era muito querido e, quando eu era pequeno, era o tio “preferido”. Sempre muito brincalhão, gostava muito de pescar e sempre nos divertíamos muito na Praia Grande, quando eu era pequeno. Meus primeiros “caldos” no mar, foi ele quem deu. As primeiras brincadeiras mais maliciosas de adolescência, também foi ele quem fez. A primeira vez que dirigi numa estrada foi acompanhando o carro dele. Senti saudades e lembrei muitas coisas vividas com ele. Antes do meio dia, pegávamos o barco para ir para Trancoso, uma das praias mais bonitas que vimos na viagem. Após uma hora de viagem no confortável ônibus que leva para lá (não vão de perua de lotação de jeito nenhum, pois irão se arrepender!), chegamos no “quadrado”. O lugar parece estar ainda mais bonito que antes! A Lu se surpreendeu com a beleza do lugar, com a igrejinha branca contrastando com o céu azul, bem no alto e na ponta da falésia. Encontramos a senhorinha que havia nos vendido abacaxis da outra vez e aproveitamos para comê-los novamente. Tomamos água de coco e depois fomos ver a linda vista da praia do Nativos, com seu riozinho e sua cabana de madeira. Conseguimos falar com os Hagge e descemos para a praia. Eles estavam na praia dos Coqueiros e fomos para lá. Conversamos bastante e conseguimos tirar a Adriana e o André do lado das crianças, para fazê-los curtir um pouco as férias e a linda praia dos Nativos. Caminhamos para lá só os quatro adultos (as crianças estavam com a babá e com o Jonas e a Carol ajudando a cuidar) curtindo a caminhada e falando da viagem e dos filhos. Eles se impressionaram com a beleza da praia dos Nativos e só não mudamos tudo para lá por ficar longe para voltar com tudo. Curtimos um pouco o lugar, fotografamos e voltamos para a praia dos Coqueiros. Logo eles tiveram de ir embora e nós fomos outra vez para os Nativos com as crianças. Elas aproveitaram o banho de rio e adoraram a parada. Quando já ameaçava anoitecer, retornamos ao quadrado e pegamos o ônibus de volta para Arraial. Após um banho rápido, fomos jantar no Portinha e encontramos os Hagge (sem a Adriana, que não estava muito bem), para o Jonas dar ao Victor e ao Marcelo os barquinhos que ele havia feito. Tomamos um sorvete na deliciosa (mas cara) sorveteria do Coelhinho. Os sorvetes são todos muito bons, mas tem que pedir para colocar meia bola, pois eles capricham muito no tamanho dela. Demos “até breve” aos amigos, com a promessa que nos encontraremos em Ilhabela no final do ano. Já estamos ansiosos, só de imaginar a farra que será na Ilha! Voltamos ao hotel e ficamos conversando na varanda, olhando a maravilhosa Porto Seguro iluminada, sentados em confortáveis poltronas, aproveitando este lugar abençoado! Apesar de ter o dia inteiro lembrado de meu tio com um misto de saudades e tristeza, tivemos um dia alegre, com uma alegria que o tio Vicente sempre nos passou.

 

19/01/2007

Acordei com um tranco muito forte no barco, parecendo que outro barco havia dado uma pancada muito forte no Fandas! Que susto! Logo saí correndo de dentro do barco (não sei nem como “desencaixei” tão rápido da cama de popa). Olhei para a frente e vi uma lancha se desvencilhando do nosso cabo de proa. Olhei para trás e vi um de nossos cabos de popa arrebentado. A lancha, ao sair, bateu em nosso cabo de proa, pois a maré estava baixa e os píeres são muito próximos. Isso deu um tranco violento no barco e quebrou nosso cabo. Liguei para o Shepa, que havia me procurado no dia anterior, e marque com ele de nos encontrarmos em uma hora. Fiz o café da manhã e logo o Shepa apareceu. Contei o acontecido e acabei ligando os outros problemas da batida lateral com o barco amarelo e o estouro do cabo de popa do mesmo barco com as saídas descuidadas do marinheiro da lancha. Mudamos o Fandango para o outro lado do píer para fugir do “barbeiro”, mas o colocamos com a proa para o píer (é a primeira vez que encosto o Fandas assim), para receber melhor o vento e o barco não ficar tão quente. Acabamos acertando o valor da estadia em R$ 1,10 por pé por dia. Caro em comparação com os outros lugares que ficamos, mas ao menos estamos seguros e temos a estrutura e bom atendimento do ótimo Hotel Quinta do Porto. Conversei bastante com o Marcos, skipper do lindo “Gabi”, um Dolphin 46 e pedi para mostrar o incrível barco para a Lu. Ele nos mostrou tudo e fiquei impressionado como ele cuida bem do barco e como ele é completo. Até compressor para cilindros de mergulho ele tem! Após a visita, descansei um pouco e liguei para o Tate Parracho, para nos encontrarmos. Quando saí do barco para ver uma coisa com o Jô, a Carol foi sair pouco depois. Indo contra todas as regrinhas do barco, ela tentou sair sem ajuda e sem colocar os chinelos. Resultado: escorregou e caiu na água, com a maré já vazando. Por sorte, pessoas do barco do lado, o Japonês e o Marcos, estavam por perto e a tiraram da água. Quando estava chegando no píer, a vi encharcada de alto a baixo. Após uma boa bronca, um banho coletivo e corrermos para pegar a barca para Porto Seguro, chegamos no Portinha para encontrar o Tate Parracho. Revimos o amigo e matamos as saudades, contando nossas estórias e sabendo novidades da Renatinha e do pai do Tate. Acabamos o jantar comendo sorvetes na sorveteria do Coelhinho e voltamos para o barco para dormir cedo, pois fechamos um mergulho amanhã cedo nos Recifes de Fora.

 

20/01/2007

Acordamos bem cedo e corremos com o café da manhã. Estamos todos ansiosos para mergulhar nos Recifes de Fora, um banco de recifes de coral ao lado de Porto Seguro. O barco da operadora chegou até antes do horário marcado e, após eu buscar a Priscila e o Renato fora do hotel, subimos nos barco e saímos. Aproveitamos o caminho para matar as saudades dos amigos e saber as novidades de todos que não puderam vir. No caminho, Dino, o simpático capitão do barco que nos levava, me deu todas as marcações em terra para poder sair do canal de Porto Seguro. Chegamos no local de mergulho já todos preparados e logo estávamos dentro da água. A visibilidade era de quatro ou cinco metros apenas, mas já era suficiente para ver muitas coisas. Desci bem perto de um coral fogo, bem alaranjado, que estava ao lado do barco. A profundidade mínima era de dois metros e logo começamos a ver pequenos peixes. Após pouco tempo, a Lu descobriu um baiacu-arara enorme dentro de uma toca. Ele devia ter cerca de 5 quilos, tinha uma cabeça maior que a minha e olhos enormes! Vimos muitos cirurgiões azuis, budiões e eu vi dois sargos-de-beiço que deviam ter uns três quilos cada um! Um peixinho que temos visto muito por aqui e que adoramos é a viuvinha-de-rabo-amarelo, que tem pintas azuis fosforescentes e que soubemos o nome através do Lobo, o dono da companhia de mergulho. Várias pessoas estavam fazendo mergulho autônomo e nós os víamos passar o tempo todo abaixo de nós. Ficamos mergulhando cerca de duas horas e só saímos porque a água estava um pouco fria. A Carol passou mal no barco e vomitou, mas vi que não era nada relacionado com enjôo de mar, pois o barco mexia muito pouco. Retornamos para Arraial contentes com o belo mergulho e conversamos um pouco com o Lobo, falando das pessoas em comum que conhecíamos de mergulho. Quando chegamos na marina, deixamos o material no barco e fomos para Arraial D’Ajuda para almoçar com o Renato, a Pri e a mãe dela, que havia ficado na pousada. Almoçamos no Portinha, a Carol comeu pouco e só coisas selecionadas, mas mesmo assim não estava bem quando fomos comer um sorvete. Começou a ter fortes dores de barriga e resolvemos voltar para o barco, para dar remédio para ela. Entramos numa van que prometia sair antes do ônibus e vimos um ônibus ir embora sem nós. Quando o segundo ônibus estava para sair sem a gente, reclamei com a moça que havia prometido uma saída rápida e corremos para pegar o ônibus, que gentilmente nos esperou. Recomendo que ninguém que venha para Arraial pegue essas van’s e peruas, pois correm demais, não respeitam leis de trânsito e tornam perigoso o passeio. Esperei para pegar a placa para reclamar da van e ela chegou após seis ônibus terem chegado! Os ônibus são bons, baratos e não demoram muito para sair, além de serem muito mais seguros. Dei remédios para a Carol que melhorou e ficamos no hotel o resto da noite fazendo nossas atividades, aproveitando um merecido descanso.

 

21/01/2007

A Carol teve diarréia durante a noite e desmarcamos nossa ida para Trancoso. Também resolvemos dar mais dois dias para ela melhorar antes de sairmos de Porto Seguro. Dessa maneira, não poderemos mais parar em Cumuruxatiba, como queríamos. É uma pena, pois não poderemos rever o Cigano, a Thaís e suas filhas. Passamos praticamente o dia todo na marina e a Carol ficou na sombra o tempo todo. As crianças aproveitaram para estudar (tive o maior “stress” com o Jonas para “convencê-lo” a adiantar os estudos) e ficamos descansando. Dei um pulo na praia de Arraial com a Lu rapidamente, deixando o telefone com as crianças para alguma emergência. Foi um dia tranqüilo e sem novidades, mas muito bom, pois a Carol já estava muito bem no final do dia.

 

22/01/2007

Acordamos cedo, a Carol estava bem e fomos fazer uma série de trabalhos necessários. Seguimos para Porto Seguro e logo fomos procurar uma peça para arrumar o tanque de água do barco, que estava vazando. Achei-a na primeira casa de materiais de construção que paramos. Depois disso fomos aos bancos e passamos para comprar lembranças para os amigos e algumas outras coisas que precisávamos. Ainda fomos ao mercado e fizemos uma grande compra, para agüentar vários dias no mar sem abastecer. Retornamos ao Fandas e, após todo o trabalho de guardar tudo, arrumar o vazamento no tanque e arrumar um vazamento na pia do banheiro, de novo retornamos à Porto Seguro para comprar diesel. Andamos pela Passarela do Álcool para comprar uma camiseta que a Lu queria e compramos quarenta litros de diesel para completar nosso abastecimento. Quando chegamos no Fandas novamente eram mais de nove horas da noite e estávamos pregados. Fiz o jantar e fomos dormir cansadíssimos.

 

23/01/2007

Dia de passeio! Arrumamos tudo rapidamente de manhã, as crianças estudaram e saímos para Trancoso. O dia estava lindo e pegamos o ônibus, que nos deixou em Trancoso uma hora depois. Logo que chegamos, fomos tomar iogurtes com sorvete e depois fomos até a igrejinha. Vimos novamente a linda vista das praias e descemos para elas. Fomos para a praia dos coqueiros, conforme recomendação do Marcos, do veleiro Gabi, e adoramos o lugar. Desta vez, em vez de ficar nos barzinhos, seguimos mais um pouco e ficamos tranqüilos, sem aglomeração, numa praia lindíssima. Conhecemos o sr. Manoel e seu burrinho “Motorzinho”, que já saiu até em revistas. Esse senhor vive vendendo abacaxis na praia e dá gosto o tratamento que ele dá ao Motorzinho. Ele tem até um cesto para recolher os resíduos do “escapamento” do Motorzinho! Após curtir bastante a praia dos Coqueiros, fomos para a praia dos Nativos e ficamos vendo o rio e o mar. Esse lugar é lindíssimo! Não canso de dizer que é uma das praias mais lindas que conhecemos na viagem. Quando o sol estava quase se pondo, subimos para o quadrado e jantamos no Portinha. Estava anoitecendo e o comércio local começou a acender suas luzes. Chegamos à conclusão de que o Portinha de Trancoso é o melhor e mais “especial” de todos. Ficamos ali jantando e curtindo a visão do “quadrado”, com a igrejinha ao fundo, seus hippies vendendo seus artesanatos e as lindas casinhas iluminadas, cada uma de uma cor. Pegamos o ônibus para retornar à Marina e chegamos tão cansados que desistimos de ir comprar uma coisinha que faltava em Porto Seguro. Dormimos cedo, pois amanhã é dia de travessia.

 

24/01/2007

Acordamos cedo e rapidamente arrumamos as coisas para sair. Soltamos as amarras eram 7:20 hs da manhã, aproveitando o estofo da preamar. Tiramos facilmente o Fandango da vaga, cuja saída estava atravancada por três barcos, mas nos ajudaram soltando os cabos deles na água e saímos direto. Com muito cuidado, saímos da difícil barra de Porto Seguro sozinhos, graças às dicas do Dino e usando também os waypoint’s do Roteiro Náutico do Cenab. Abrimos as velas e fomos devagar, pois tínhamos muito tempo para percorrer as noventa e poucas milhas até Abrolhos e eu não queria entrar de noite lá. O vento estava de sudeste e não ajudava muito. Para piorar, havia uma correnteza contra de um nó no mínimo. Colocamos a vara de pesca e tentamos um peixe para o almoço. O vento só melhorou no começo da tarde, mas mesmo assim não fazíamos mais de quatro nós na orça apertada. Durante o dia, duas vezes bateu peixe na isca artificial, mas nenhum dos dois ferrou legal. A navegada estava tranqüila e o mar estava liso. O Jonas disse que “parecia que estávamos navegando no canal de Ilhabela”. Fomos navegando perto da costa, vendo todo o litoral pelo qual passeamos. Aproveitei para dormir várias vezes durante o dia, enquanto o Jonas e a Carol se revezavam nos turnos, pois a noite seria minha e da Lu. No final da tarde, bateu um atum grande e o Jonas tentou puxá-lo. Praticamente paramos o barco e o Jonas veio puxando facilmente o atum, pois ele estava vindo na direção do barco também. Quando ele chegou perto do barco, começou a brigar de verdade e, numa das suas fugas, ele correu para baixo do barco e cortou a linha no leme. O Jonas ficou desanimado, mas colocamos outra isca e a soltamos novamente. Dez minutos depois, mais um peixe bateu. O Jonas novamente pegou a vara e, desta vez, não deixei o barco tão parado. Após muita briga, ele trouxe para bordo uma bicuda de quase um metro de comprimento e um quilo e meio de peso! Logo a limpei, pois o dia estava se encerrando. Após temperá-la, coloquei óleo na frigideira, empanei os pedaços e jantamos peixe frito com arroz. O Jonas disse que o peixe estava com um “gosto especial”, pois ele mesmo o havia pescado. Após o jantar, as crianças foram dormir e eu fiquei no turno. A noite estava deliciosa e uma lua crescente linda jogava seus raios prateados no mar. Com o mar bem calmo, fomos velejando até o vento acabar de vez. Então, ligamos o motor e seguimos na direção de Abrolhos diretamente.